segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Balão

Grita, foge, estremece
Guarda a coragem, sente medo por uns instantes
Confuso, o teu corpo enlouquece
Expira dúvidas e receios
Pensa em ti e nos problemas alheios
Mas depois pára.
Respira. Observa. Pondera.
Mantém a calma, descarta os nervos
Faz dos teus receios os teus maiores servos
E toma rédea da tua vida.
Combate a prisão, a opressão
Mas não te escondas no mundo da solidão
Se não tiveres vergonha, dá-me a mão
Se tiveres, sopra a raiva num grande balão
Agarra-te a ele e voa para longe;
Pelo menos tens a companhia da imaginação.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

red spirits make love with white souls

Desmembrando o corpo da mentira,
A aura escarlate da vida solta-se das veias
Libertando o desejo da branca alma, de ser uma com o mundo
De vaguear pela terra, pelo céu, pelo mar
De se abraçar a cada sorriso, de se deitar a chorar
Por não encontrar, ainda que procure
O espírito apaixonado da sua vermelha metade
Que há muito escapou do ser onde ambos habitavam,
Pelo receio de corrosão
Dos pensamentos negros da sua vida dupla
Dos contornos malditos de todos os seus passos...

E então o espírito vermelho fugiu da alma branca,
Pois sozinhos sobreviveriam, mas juntos seriam executados.
Era o seu medo.

Mas no reencontro, a alma acorrentou o espírito
Pelo amor, pela saudade, pela esperança
Pois fora do corrompido humano, todo o sentimento é belo
Toda a ideia é possível
E todos os espíritos podem fazer amor com as suas almas.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

241-17: Closer

Portas.
Fechaduras bloqueadas pelo medo de esquecer.
Chaves de prata, de ouro, de betão
Num chaveiro de lembranças, que ninguem ousa tocar
Pelo receio de destruir
O sorriso que permaneceu intacto
Por tantos anos de paz e solidão
Lacrado na fechadura enferrujada.

"Desta vez, é Dinis quem reflecte sob a queda de água fria do seu chuveiro. A perspectiva de perder a pessoa de quem gosta para Rafael é sentida como uma traição voraz, um punhal no coração da amizade, uma flecha de gelo nas suas costas. A água deixa-o dormente, mas não o suficiente para gelar a tristeza. Decidiu abdicar, para poder manter. Para poder sorrir por Rafael e tentar sorrir por si. Para não sofrer. Percebe que não há mais nada a fazer a não ser procurar a chave de prata azul e abrir o baú. Não pode mais temer por aquilo que não pode combater. Deve apenas sobreviver."

E no baú azul, por detrás da porta de betão dourado com a fechadura de prata, a amizade de Rafael abraça-o. E ele sente-se bem.