sábado, 23 de outubro de 2010

Sentidos

Dualidade.
Duas consciências, dois seres, duas pessoas.
Um corpo.
Uma identidade, uma alma, uma vida.
Medo de pensar.
Confusão de ideias, contradições permanentes neste cérebro a preto e branco, onde o sim é lei e o não é pecado.

Pecado, blasfémia, punição. Punição que dói, que persegue, que aperta o coração, que faz o nosso corpo tremer e a nossa alma estalar. Sem sentido, sem sinais vitais. Sem ar. Perde as asas, este corpo fraco, e por isso não viaja. Não conhece mais que aquilo que os olhos alcançam... Mas os olhos vêem muito. Vêem saudade, tristeza, ambição. Vêem falsidade e captam sentimentos de agonia, de ansiedade, de arrebatadora paixão. Vêem a ligação entre dono e cão, entre amigos, entre pais e filhos. Vêem ligação de pensamentos, de almas, de sensações de perdição. Mas esperem... Não vêem amor. Não. Pois o amor não se vê, nem se sente, nem se cheira. Nem se toca. Ouve-se. Ouve-se o bater do coração, os desejos que nos assolam a mente, a vontade de beijar, de tocar a pessoa, de sentir o seu aroma. Ouvem-se pássaros cantar, sinos tocar, músicas no ar; ouvem-se os murmúrios da alma a convencer-nos aproximar. Ouve-se tudo e mais alguma coisa: pessoas, animais, até os cheiros se podem ouvir. O som das rosas na pele, da baunilha no cabelo, do hálito a menta. E o som do medo. Medo da rejeição. O medo que não se sente, mas que se ouve. Ouve-se o medo do medo, e ouve-se o seu cheiro, a terra molhada da chuva numa noite de verão, mas com uma tonalidade avermelhada, como se a chuva tivesse queimado a terra. É um som especial, pois é um medo especial. O medo de amar.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Always, always, always, always love you...

Eu sou de confiança. Sorrio, choro, ajudo, caminho quilómetros para ajudar um melhor amigo. Nada para mim vale mais que a amizade. Nada. No fim de contas, podemos amar um infinito de pessoas, podemos apaixonar-nos por todas elas, mas quem estará sempre lá? Mesmo que algo corra mal com o amor das nossas vidas. Com a pessoa que amamos. Quem está sempre lá? Tu. E ele. E elas também. Vocês, minha gente, minha família, seres do meu sangue, que me estendem uma mão a sorrir, um abraço forte num dia de chuva, uma gargalhada no meio da chuva de lágrimas. Fazem-me ver cores neste mundo a preto e branco, fazem-me rir neste velório de valores, fazem-me sentir livre nesta prisão de crenças. Seja na janela do mundo, na estrada dos eucaliptos, num café no Chiado, na rua com cheiro a caril, na casa de chá cheia de sensações que todos conhecem, numa casa perdida no Meco, na Avenida vasco da gama, em plena rua a entrar em simbiose com o planeta ou num dia chuvoso, numa tasca que afirma servir almoços, na Junqueira. A todos vocês, um grande, enormíssimo obrigado, por serem quem são, mesmo que um ou outro tenha escolhido deixar de me ser o que era. Desde e para sempre, ainda que por tempos isso não tenha sido claro, ter-me-ão pelo mesmo tempo infinito quanto desejarem.
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