segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Crónica de um (des)apaixonado



É como chuva no deserto, o amor verdadeiro. É escasso, é precioso de tão raro, mais desejado que qualquer outro bem. É vida, é do que somos feitos, de onde nasceu o Homem, a Mulher. É o único que apaga incêndios de discórdia, o único que mata a sede de mil e uma solidões, o único do qual nenhum animal racional pode abdicar, pois não consegue; o seu corpo não o permite. Mas o amor não cai do céu, nem se pode simplesmente mergulhar nele indo à praia, ou comprá-lo no quiosque da nossa rua. O amor encontra-se por acaso, como se encontram amigos que não se vêem há vários anos e dão por si no mesmo lugar, perplexos com a aparição um do outro. Encontra-se também como se encontra uma nota de 50€ no bolso daquelas calças muito antigas que estamos prestes a deitar fora; sempre lá esteve, mas já não nos lembrávamos de o ter guardado lá. É como um eclipse; é provável que só passemos por um durante as nossas vidas. É como jogar numa raspadinha aos 80 anos e ganhar; é irónico, é sublime, é surpreendente como acontece quando menos esperamos, quando menos queremos, quando menos dá jeito. Mas o amor é assim mesmo; nunca parece dar jeito, e quanto mais complicado fica mais sede nos dá, pois não há nada como encontrar o fruto proibido e com ele saciar a sede por ser o mais apetecido, por nos ser vital, essencial, absolutamente indispensável. Depois de o encontrar, aí sim, podemos viajar nele, mergulhar nele, afogarmo-nos nele. E a que cheira o amor? A que sabe? É como a água também, e quem diz que a água não tem cheiro nem sabor, nunca bebeu com verdadeira sede.

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